AS HISTÓRIAS NÃO SÃO NADA, QUANDO NÃO TEMOS A QUEM CONTÁ-LAS
Nascido em Ovar, há 50 anos, Joaquim
Margarido defende que as melhores ideias surgem mansamente, geradas
nos sonhos de criança.
Menino ainda, fazia o seu dia de
brincadeiras no pátio da casa dos pais, “às voltas da Volta”,
dando vida aos numerosos pelotões de “ciclistas-caricas”, as
estradas deste Portugal traçadas no cimento com lápis de cera. O
amigo Tavares fez as primeiras “camisolas”. Joaquim Agostinho,
Firmino Bernardino, Leonel Miranda, Fernando Mendes. Um quarteto
pioneiro, caricas precisosas e autênticas, em pó e ferrugem
tornadas pela voragem dum tempo que não volta! Quatro “conchinhas”,
às quais se foram juntando outras, e mais outras… O pelotão
internacionalizou-se quando o Tavares fez igualmente quatro camisolas
da S.C.I.C., equipa italiana então “na berra”. Só sabia o nome
do Vittorio Adorni. Os outros foram inventados!...
Com um golpe do indicador,
pacientemente, empurrava as pequenas cápsulas, enquanto recitava num
murmúrio uma lengalenga que não era mais que um relato da etapa, o
seu relato. Gostava de brincar! Horas e horas a fio, acocorado, lá
ia cruzando o país de lés-a-lés sem sair daquele pátio. Mas as
“conchinhas” eram mero pretexto. No final da etapa, vinha para a
bancada da garagem e, em enormes folhas de cartão pardo, registava
as classificações completas, num exercício jornalístico de enorme
rigor, organização e perseverança. Tabela afixada, a etapa
seguinte podia começar!
Já estava ali, há quatro décadas
atrás, esta necessidade intrínseca de comunicar através da
escrita, de levar ao leitor tudo o que se relaciona com o vasto e
complexo mundo do Atletismo ou da Orientação, modalidades que
abraçou e onde acabou por se especializar. As marcas de outrora no
pátio são agora estradas e florestas “a sério”. O Benfica, o
Porto, a Âmbar e a Fagor passaram a ser o Grupo Desportivo dos
Quatro Caminhos, o Maratona Clube de Portugal, o Desportivo Atlético
de Recardães ou o Clube de Atletismo de Ovar. Trocou a bancada e a
cartolina pelo escritório e pelo portátil. E o Mingos, o Tó Elvas
ou o João Balreira, seus companheiros de então, são agora a sua
mulher e filhos, e todos aqueles amigos e praticantes deste mundo da
corrida, que correm por prazer e que, com as suas palavras de apoio e
incentivo, o ajudam a prosseguir na senda desta paixão.
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