Numa altura em que festejamos os 25
anos da FPO, qual a palavra que de imediato lhe vem à mente?
Luís Santos (L. S.) - Estive
uns três minutos a olhar para a pergunta e a pensar nela, mas
sinceramente a única palavra que me vem à mente é a própria
modalidade: Orientação. Eu estou ligado à modalidade “apenas”
há 17 anos - não vivi os primeiros oito anos -, mas nestes 17 anos
a modalidade moldou fortemente a minha vida. Tenho feito de tudo um
pouco: liderei a Secção de Orientação do CDCE de 2000 a 2002, fui
Diretor de Prova pela primeira vez em 2000, fui Diretor-Executivo da
FPO entre 2002 e 2004, fundei o CPOC com o grupo vindo do CDCE em
2002 e liderei o clube até 2009 e posteriormente de 2011 até hoje.
Já fui responsável pelo Departamento de Cartografia da FPO, agora
sou Vice-Presidente do Conselho de Arbitragem, sou Supervisor
Internacional desde 2007, tenho o curso de traçador de percursos e
traço muitas vezes, sou cartógrafo de nível 3 e crio alguns mapas
urbanos, dou ações de formação, faço arranjos gráficos de
mapas, e sei lá quantas coisas mais esqueci. Não menos importante,
tenho 90% dos meus amigos ligados à modalidade. Por tudo isto, esta
celebração da FPO é também muito especial para mim.
Qual a “dívida” que o CPOC tem
para com a Federação em matéria do seu aparecimento e
desenvolvimento?
L. S. - Diria que,
provavelmente, sem a FPO não existiria o CPOC. A génese do CPOC
está no desafio que o Presidente Augusto Almeida me lançou quando
trabalhávamos juntos na FPO. Na altura estava no CDCE, confidenciava
alguns problemas que tinham a ver com o ritmo diferente da Secção
de Orientação e do resto do Clube e com a falta de autonomia para
gerir as verbas que gerávamos, e foi o Augusto que lançou na altura
o desafio - que me pareceu uma loucura completa! - de criar um Clube
novo. A ideia ficou a fervilhar e acabou por ser partilhada com os
outros amigos do CDCE. O processo não correu como eu gostaria, pois
gostaria que todo o grupo tivesse transitado para o CPOC, tal como
tinha acontecido quando saímos do CM Arrábida em 2000 para ir para
o CDCE. Mas em 2002, alguns dos elementos do grupo optaram por ficar
no CDCE. Curiosamente, por vezes são as frases negativas que mais
nos movem e foi “profetizado” por um dos elementos que ficou no
CDCE que nem nos dava um ano. Ao fim de um ano estaríamos falidos. A
história desportiva do CPOC foi-se encarregando de o desmentir... É
também importante frizar que o apoio que o Presidente da FPO deu,
tal como o Jorge Simões, sempre uma das pessoas mais marcantes da
nossa modalidade, foram decisivos para que a fase mais embrionária
da criação do CPOC fosse ultrapassada sem grandes turbulências. Ao
segundo ano de vida (em 2003/2004) o CPOC já era o 4º clube na
pedestre e o 6º na BTT em Portugal.
Como definiria o CPOC neste momento?
(por favor, exemplifique com alguns feitos alcançados em 2015 e com
iniciativas relevantes agendadas já para 2016 e 2017)
L. S. - O CPOC tem apenas 13
anos mas já foi obrigado a reinventar-se algumas vezes. Muitos
sócios e praticantes com bastante peso no Clube e mesmo na
modalidade (cito por exemplo os casos de Tiago Aires, Susana Pontes,
Raquel Costa, António Aires, Tiago Fernandes, Alexandra Coelho, Rui
Botão - os dois primeiros ainda são sócios), que constituem só
por si um grupo que, se estivesse junto, daria para ter um dos clubes
mais fortes e experientes da modalidade. O clube perdeu a mais valia
destes e de outros elementos com muito valor e foi-se reinventando ao
longo dos anos. 2015 tem sido um ano particularmente difícil pois o
CPOC organizou possivelmente o evento mais contestado da sua
existência (os Nacionais de Distância Longa e Sprint em Gouveia), o
que levou a colocar dúvidas sobre a continuidade do projeto diretivo
atual. Ainda assim, o projeto renovou-se, o Clube mantém uma
presença razoavelmente boa nos vários eventos da modalidade (embora
longe do nível atingido quando o CPOC lutava pela vitória na Taça
de Portugal Pedestre entre 2005 e 2010).
Para 2016 temos três projetos
ambiciosos em curso: (A) O LIOM - Provavelmente o terceiro maior
evento da história do clube, puxando pelo potencial da cidade de
Lisboa para benefício da Orientação, mas mantendo a perspetiva de
escolher bons terrenos para a modalidade, o que nos levou a aliar-nos
ao GDU Azoia e a fazer a Distância Longa do evento em Sesimbra. É a
primeira vez que o CPOC tem um evento com 2 WRE's e temos grandes
expectativas para o WRE de Sprint que vai decorrer em
Alfama/Mouraria. (B) - O Ibérico de BTT - Mais uma parceria. Foi
raro na história do clube recorrer a parcerias, mas foi também esta
a forma que vimos para conseguir projetar um regresso às
organizações de Orientação em BTT. Optámos por nos juntar ao ATV
para juntos podermos oferecer um bom Campeonato Ibérico e tentar
captar novos praticantes ou recuperar alguns dos que se afastaram
desta vertente da Orientação. (C) - Os Campeonatos Nacionais de
Orientação de Precisão, que serão também Taça da Europa em
2016. Será a primeira vez que os Nacionais não serão associados a
uma prova âncora pedestre e esperamos ter uma boa participação de
cada vez mais interessados na Orientação de Precisão, até porque
o CPOC tem ótimos praticantes e alguns dos melhores organizadores de
Portugal.
Como vê o atual estado da
Orientação em Portugal?
L. S. - Com preocupação.
Atualizo regularmente as estatísticas da FPO e da modalidade e sei
do que falo. Os grandes sucessos de muitos dos nossos eventos
internacionais tem mascarado um pouco a quebra de participantes
regulares, com maior incidência ainda na vertente de Orientação em
BTT. É certo que em 2015 os números parecem ter estabilizado,
principalmente na Orientação Pedestre. Mas não podemos
estabilizar. Temos que voltar a crescer. Creio que por vezes é muito
difícil conciliar a preocupação em criar as melhores condições
possíveis para os nossos melhores atletas com a necessidade de
eventos apelativos para quem queira vir experimentar a modalidade,
mas penso que as fórmulas usadas entre 2004/2006 eram mais
apelativas do que as atuais. É certo que a conjuntura é diferente,
mas é nesta conjuntura atual que outras modalidades têm singrado e
fortalecido, “canibalizando” as possibilidades de sucesso da
Orientação. É certo que há na modalidade quem defenda que o Trail
pode ajudar a trazer praticantes para a Orientação mas eu o que
vejo é o enfraquecimento progressivo da Orientação à custa do
Trail e de outras vertentes de corrida sem mapa, que nada têm a ver
com a Orientação e que lhe roubam praticantes.
Três ideias breves para três
tópicos muito concretos: Comunicação, Desporto Escolar e Provas
Locais.
L. S. - Comunicação - A maior
lacuna da modalidade. A modalidade dá muito trabalho a organizar e
os clubes têm dificuldade em organizar-se para conseguirem projetar
os seus eventos com eficácia. Não estou a responsabilizar a FPO que
tem lutado muito para conseguir dar visibilidade à modalidade,
nomeadamente através do O'TV, mas cabe à FPO e a todos os que nela
vamos trabalhando, conseguir criar soluções para o futuro de forma
a enfrentar ameaças que identifiquei como a do Trail. Recordo que há
10 anos, quando começámos a criar condições de grande sucesso na
modalidade, a maior ameaça aos nossos eventos internacionais eram os
eventos em Espanha que colidiam com os nossos. Ganhámos essa batalha
mas também temos de ganhar as batalhas às outras modalidades que
nos roubam praticantes e, porque não, tentar conquistar aos “sofás”
deste país, ainda com grande défice de prática desportiva, mais
praticantes.
Desporto Escolar - A melhor “alavanca”
da modalidade nos últimos anos. Enquanto cada vez perdemos mais
recém-chegados adultos à modalidade, o Desporto Escolar tem
crescido e sustentado um elevado número de jovens a vir para a
modalidade. Creio que tem havido poucos a trabalhar pelo crescimento
da modalidade no Desporto Escolar, mas têm trabalhado muito bem e
feito muito pelo crescimento da Orientação. Alguns dos principais
“pilares” da nossa modalidade são professores de Educação
Física do Desporto Escolar. O CPOC é um clube moldado pela sua
parceria com a Escola da Sarrazola. Os seus melhores atletas são - e
têm sido quase sempre - da Sarrazola e atualmente estão na Direção
do clube duas jovens que começaram a praticar Orientação na
Sarrazola: a Ana Filipa Silva e a Mariana Moreira.
Provas Locais - O CPOC organiza
anualmente perto de uma dezena delas. É uma carga organizativa
pesada e com pouco impacto financeiro na vida do clube mas é
decisivo para que a modalidade se mantenha dinâmica e para que
muitos que nunca vão a Taças de Portugal vão mantendo contacto com
a modalidade. Ainda por cima, o CPOC é atualmente o único clube da
Orientação portuguesa com alguma dimensão e dinamismo na área da
Grande Lisboa e seria criminoso para a modalidade se não
mantivéssemos este dinamismo, quer através do projeto “Mexa-se
Mais”, que temos em Oeiras, quer através do recém-criado “Ori
Monsanto” que ainda no passado fim-de-semana teve mais uma etapa
com 180 participantes, apesar do clima instável.
Um desejo neste soprar das 25 velas.
L. S. - Ver a modalidade a
crescer, em paz, com muitos e bons eventos e que eu possa continuar a
sentir-me feliz no seu meio. Como ainda recentemente escrevi numa
entrevista, e como muitos de nós dizemos muitas vezes, isto não é
só uma modalidade desportiva: é uma forma de vida.
[Foto gentilmente cedida por Luís
Santos]
Saudações orientistas.
Joaquim Margarido
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