Numa altura em que festejamos os 25
anos da FPO, qual a palavra que de imediato lhe vem à mente?
Isaú Alves (I. A.) - Juventude
com maturidade. Porque 25 anos é pouco em termos temporais, mas
tem-se conseguido muito no que se refere a organização, qualidade
dos eventos, formação e evolução da modalidade.
Qual a “dívida” que o CIMO tem
para com a Federação em matéria do seu aparecimento e
desenvolvimento?
I. A. - O CIMO pertence ao
núcleo dos fundadores da nossa Federação, sendo o sócio nº 3 (
os nº 1 e 2 já não existem). O clube oficialmente nasceu em 1992,
reunindo um vasto grupo de atletas, muitos deles militares, alguns
mais interessados no Montanhismo e outros na Orientação. Muitos
clubes surgiram após os seus fundadores terem passado primeiro pelo
CIMO e posteriormente decidido constituir novas associações mais
próximo das suas residências. Ao longo da sua existência, este
clube já organizou próximo de duas dezenas de troféus de
Orientação, incluindo dois Portugal O' Meeting, bem como dezenas de
provas de caráter local. No âmbito da cartografia, o CIMO
apresentou desde o início da modalidade vários técnicos que têm
contribuído para o elevado nível nesse âmbito, sendo reconhecidos
em Portugal e no estrangeiro. O clube dispõe também de um imenso
espólio em áreas cartografadas, que têm sido disponibilizadas para
outros parceiros desportivos, incluindo o Desporto Escolar e as
Forças Armadas.
Como definiria o CIMO neste momento?
I. A. - Atualmente o CIMO sofre
da conjuntura sócio-económica e da perda de valores associativos da
nossa sociedade, com especial relevância no contexto jovem. Sentimos
uma crise de aparecimento de novos atletas e dirigentes. As
autarquias e o Estado Central reduzem o seu apoio às associações e
clubes, privilegiando as empresas de animação turística. Aos
dirigentes e aos técnicos dos clubes são exigidas responsabilidades
de formação e de organização, que em geral são suportadas por
eles próprios, devido à debilidade financeira dos clubes. O
trabalho associativo é feito especialmente pelos poucos resistentes
mais velhos. Após o POM de 2008, organizámos em 2014 uma prova da
Taça de Portugal no Cabo Espichel e neste ano de 2015, outra, em
Proença-a-Nova. Atualmente temos um reduzido número de atletas em
competição e não temos qualquer organização prevista para breve.
Enfim, estamos em crise!
Como vê o atual estado da
Orientação em Portugal?
I. A. - A Orientação em
Portugal parece-nos estar também a refletir a crise que a nossa
sociedade atravessa. Os apoios estatais são reduzidos, as autarquias
também não podem apoiar, muitos clubes não têm meios financeiros
para desenvolver as suas atividades, nem propor novas organizações.
O Desporto Escolar, primeiro fornecedor de atletas aos clubes, está
cada vez mais estrangulado financeiramente e além disso desmotivando
a adesão dos professores, sobrecarregados com imensas burocracias.
As exigências pela organização dos eventos são cada vez mais
rigorosas. As avaliações das provas são talvez algo exageradas,
desmotivando os pequenos clubes, que se vêem confrontados com imenso
trabalho, sem retorno financeiro e pouco reconhecidos no seu esforço.
Cada vez temos menos atletas nas provas. As deslocações são muito
dispendiosas. Aparecem outras ofertas de lazer mais atrativas para o
praticante, que prefere rumar a outros destinos, em vez de se
deslocar por vezes a centenas de quilómetros, para ir fazer uma
prova que se prevê ter uma duração muito reduzida. Os clubes com
alguma capacidade financeira são os que rotativamente vão
organizando os POMs, que é a única prova que dá alguma receita
significativa. Parece-nos que teremos que debater a situação da
Orientação em Portugal, pois de contrário iremos ter três ou
quatro clubes a organizar provas quase só para os seus atletas.
Três ideias breves para três
tópicos muito concretos: Comunicação, Desporto Escolar e Provas
Locais.
I. A. - Comunicação –
Necessária mais abertura e diálogo construtivo.
Desporto Escolar – É preciso apostar
em políticas de saúde para a nossa população, que incluirão a
valorização da educação física e do desporto escolar no nosso
sistema de ensino público.
Provas locais – Para serem relevantes
e captarem praticantes, têm que estar apoiadas no desenvolvimento do
Desporto Escolar e na valorização da prática associativa.
Um desejo neste soprar das 25 velas.
I. A. - Desejo que se inverta a
situação atual e que, daqui a cinco anos, no 30º aniversário, tenhamos
recuperado dos números de praticantes perdidos nos últimos cinco
anos.
Saudações orientistas.
Joaquim Margarido
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