Os resultados alcançados até ao
momento na Taça de Portugal de Orientação de Precisão 2014 fazem
de Luís Gonçalves uma das grandes sensações da temporada. Em
vésperas da partida para Itália, onde representará o nosso país
pela primeira vez numa grande competição internacional, o atleta
sobe à tribuna do Orientovar para falar do seu interesse por esta
vertente e projetar o futuro.
O seu gosto pelo TrailO é algo que
surge de forma quase espontânea, relacionado com um momento preciso,
ou é fruto dum processo de crescimento que se vem prolongando no
tempo?
Luís Gonçalves (L. G.) - Até
2013, o meu envolvimento no TrailO foi, de certa forma, bastante
reduzido. Ajudei um pouco nas organizações do CPOC (Parque Eduardo
VII e Campeonato Ibérico em Gouveia) mas a participação foi quase
nula, por ter dado preferência à vertente pedestre ou por ser
difícil compatibilizar algumas provas com a agenda familiar. Mas o
POM 2014 veio mudar radicalmente o meu gosto pelo TrailO. Por ter
estado envolvido em toda a preparação (técnica e logística) dessa
etapa e, principalmente, pela forma entusiasta e minuciosa como o
Acácio me foi transmitindo as regras e técnicas, fiquei realmente
motivado e preparado para as provas pós-POM. Com o resultado
alcançado na prova do Parque das Nações, aliado à possibilidade
de lutar pelo apuramento para WTOC, o meu gosto e o interesse por
esta vertente aumentou ainda mais. Assim, se considerar o período
desde final de 2013 até hoje, posso dizer que tem sido um processo
evolutivo.
O que é que vê no TrailO que faz
dele um desporto tão especial?
L. G. - Acima de tudo é uma
vertente que permite que algumas pessoas (muitas vezes esquecidas)
façam o nosso desporto, usufruam das nossas florestas e, mais
importante que tudo, possam competir de uma forma menos desigual. O
TrailO, sendo uma vertente quase exclusivamente técnica, faz com que
exista uma maior exigência ao nível da leitura do mapa, na análise
dos desafios que o traçador colocou e no equilíbrio entre a
resposta certa e o tempo que demoramos a decidir (pontos
cronometrados). E é claro que também pode ser vista como um
excelente treino técnico para aqueles que procuram bons resultados
na vertente pedestre.
O desenvolvimento da modalidade em
Portugal e a forma como vem colhendo interesse junto da comunidade
orientista, que comentários lhe suscita? Estamos no bom caminho?
L. G. - Diria que o momento
actual me deixa entusiasmado e, ao mesmo tempo, um pouco
“desconfiado”. Começando pela parte negativa, o TrailO continua
a ser visto “de lado” por um grande grupo de atletas, alguns
deles com muito peso na modalidade (por serem os nossos melhores
atletas ou por serem reconhecidamente excelentes organizadores e/ou
técnicos). Em parte é compreensível, não existe componente física
e nem toda a gente tem de gostar. Mas por outro lado, se nunca
experimentarmos uma prova a sério, como é que poderemos ter opinião
e julgar? Para além disso, os custos de organização são elevados,
sendo necessários mapas novos e caros (dado o detalhe necessário)
e, mais que isso, o conhecimento técnico e supervisão ainda está
muito concentrado. Será que o excelente impacto no ETOC 2014
permanecerá vivo para os anos seguintes?
Mas o mais importante é o que tem
acontecido e que quero que continue a acontecer. É muito positivo
ver a maioria dos maiores clubes envolvidos e dedicados nas
organizações de TrailO, ver o crescimento exponencial do número de
inscritos nas últimas provas, ver os mais jovens a participar (e de
que forma!), ver os clubes como a DAHP e o CRN com mais atletas, ver
a sinergia entre clubes (será o futuro da nossa modalidade?) e ver
um grande conjunto de atletas com valor semelhante e que procuram
evoluir. Os organizadores querem cada vez mais aumentar a qualidade
das provas, procuram desafiar mais os atletas e naturalmente a
exigência cresce. Aliás, basta olhar para as recentes provas da
Taça da Europa na Lituânia (competição não oficial) e da Taça
de Portugal (Lagoa da Vela) e relembrar (quem teve a oportunidade de
lá estar) as excelentes palavras do Nuno Pires na Lagoa da Vela para
perceber que só havendo evolução dos atletas/organizadores é que
o TrailO vai crescer e consolidar-se em Portugal.
PreO ou TempO? Qual das duas
vertentes colhe a sua preferência?
L. G. - Penso que as minhas
características encaixam melhor no PreO, pois permite-me analisar os
problemas com calma, abordar os desafios colocados pelos traçadores
de diferentes perspectivas e gerir o tempo de resposta. No entanto,
seguindo uma opinião que parece generalizada, o TempO poderá vir a
ser o futuro do TrailO, talvez pelo facto de ser muito mais dinâmico,
ser mais apetecível para os jovens e pela facilidade de a curto
prazo ser possível o acompanhamento em directo.
Garantiu, por mérito próprio, um
lugar na seleção portuguesa que estará presente no próximo
campeonato do Mundo, em Itália. Como é encarada esta oportunidade?
L. G. - Estou bastante contente
por poder representar a Orientação Portuguesa e Portugal no WTOC
2014! É um momento único que me vai permitir estar do outro lado
das grandes competições internacionais e contactar com os melhores
atletas de TrailO. Ao mesmo tempo, é uma grande responsabilidade
porque muitos outros poderiam estar no meu lugar.
Consegue avançar um objetivo em
termos de resultados pessoais no próximo WTOC?
L. G. - É difícil definir algo
que seja minimamente realista, dado que poucas provas fiz e não
tenho qualquer tipo de experiência internacional. A maioria das
outras selecções tem atletas muito experientes, o que faz com que a
competição seja muito apertada e exigente, e cada falha pode
conduzir à perda de muitos lugares na classificação. De qualquer
forma, a minha principal aposta passa pelo PreO, onde vou aproveitar
o facto de serem provas longas (mais tempo para decidir por ponto)
para tentar entrar no top25. Relativamente ao TempO, se participar,
tentarei chegar à final apesar de ser muito difícil por ter
dificuldade em responder rápido.
E quanto ao seleccionado português?
O que é que poderemos esperar?
L. G. - Ainda não falámos
sobre esse assunto mas, uma vez que todos eles participaram no último
ETOC, melhorar os resultados que obtiveram nessa altura deve ser um
dos seus objectivos. Na minha opinião, qualquer um deles, se for
consistente, pode alcançar um resultado no top20 do PreO. A nossa
selecção tem um valor muito equilibrado, o que poderá também
permitir melhorar muito a classificação por equipas.
Mais do que um trail-orientista, o
Luís continua a ser, acima de tudo, um dos nossos bons valores na
orientação pedestre. Para o pessoal da pedestre, em particular, o
que é que o “Luís-Gonçalves-trail-orientista” tem a dizer?
L. G. - Venham experimentar,
aproveitem para treinar tecnicamente. Incentivem a realização de
actividades de iniciação dentro dos vossos clubes ou mesmo
actividades interclubes.
Vamos continuar a vê-lo empenhado e
motivado a fazer TrailO por quanto tempo mais?
L. G. - Dentro da minha
disponibilidade, vou continuar a participar e, além disso,
contribuir para que o CPOC e outros clubes possam organizar provas
com qualidade para que mais atletas possam participar.
Saudações orientistas.
Joaquim Margarido