Evento emblemático
da época de Inverno da Orientação, o Portugal O' Meeting soube, ao
longo dos seus dezoito anos de existência, conquistar um lugar de
referência entre orientistas do mundo inteiro. Mas tal apenas foi
possível graças à aposta dos clubes numa organização de
excelência, assente nos melhores mapas e terrenos, na diversificação
da oferta competitiva, em arenas de qualidade e, porque não dizê-lo,
no bem receber das nossas gentes. Para falar disto e muito mais,
fomos ao encontro de António Amador, Mário Duarte e Luís Santos,
diretores do POM em 2012, 2013 e 2014. Passado, presente e futuro do
Portugal O' Meeting em análise.
O Portugal O'
Meeting está numa encruzilhada?
Mário Duarte
(M. D.) - Sim, estamos numa
encruzilhada. O Portugal O' Meeting tem o seu espaço, um espaço
reconhecido numa época do ano extraordinária para a prática da
Orientação no nosso país, mas a verdade é que começam a surgir
outros países, outras organizações, a quererem ocupar esse espaço.
Felizmente, nos últimos anos, temos organizado muito bem e a fasquia
está colocada muito alto. Aliás, gostaria de dizer que se o CPOC
[Clube Português de Orientação e Corrida], no próximo ano, tiver
mais atletas do que eu tive, sentir-me-ei realizado. É sinal que o
Portugal O' Meeting deste ano correu muito bem e constituiu um bom
cartão de visita. O Portugal O' Meeting tem de constituir uma opção
anual para aqueles que nos procuram. E nós só temos é que ir ao
encontro das suas expectativas.
António
Amador (A. A.) - Felizmente os clubes
têm pensado nesta prova como sendo uma prova da modalidade e não
uma prova do clube e isso é fundamental para todo o envolvimento que
se cria. Ainda este ano, a ADFA [Associação dos Deficientes das
Forças Armadas] teve esta preocupação. Se não tinha elementos que
garantissem a excelência em determinadas áreas, foi à procura
deles fora do clube. O ano passado aconteceu o mesmo connosco, ao
socorrermo-nos do COV [Clube de Orientação de Viseu – Natura]. E
isto é fundamental para continuarmos com o nível desta prova.
Luís Santos
(L. S.) - Talvez não devesse revelar
isto em primeira mão, até porque os contactos estão ainda numa
fase muito preliminar, mas o COV poderá vir a ser uma ajuda
importante também na organização do POM 2014. É o clube
geograficamente mais próximo de Gouveia, é um clube muito forte e
muito dinâmico e pode ser realmente uma grande ajuda. Não nos
podemos esquecer que vamos organizar o Portugal O' Meeting a 350
quilómetros de nossa casa e essa proximidade do COV pode ser uma
mais valia clara. E não só em relação ao COV, mas também em
relação a pessoas específicas em determinadas áreas, áreas onde
o CPOC reconhece não ter tanta qualidade, podendo ir buscar a outros
clubes essas pessoas-chave para fazer o trabalho necessário com
vista a mantermos o patamar de excelência que o POM já alcançou.
O que representa o
Portugal O' Meeting para um clube? É o desafogo financeiro, um balão
de oxigénio durante dois ou três anos ou é mais do que isso?
A. A.
- Fundamentalmente é uma dor de cabeça para duas ou três pessoas
durante dois ou três anos (risos). A preocupação está em garantir
um bom evento, não é se iremos ter desafogo financeiro depois.
M. D. -
Até porque, por mais previsões que possamos fazer, as contas saem
sempre furadas. É lógico que o Portugal O' Meeting, pelos números
que envolve, é um balão de oxigénio para os clubes. Todavia, o
peso logístico dum evento desta natureza também é muito grande,
sobretudo para quem organiza longe de casa, como geralmente sempre
acontece. Mas estamos a falar duma modalidade fechada, duma
modalidade onde as receitas que geramos com as nossas provas servem
para pagar as despesas nas provas que os outros organizam. Ou seja, o
dinheiro fica na modalidade.
L. S.
- Sem querer andar aqui em círculos com a conversa, a nossa
preocupação reside em descobrir terrenos que nos dêem a garantia
duma excelente prova e que nos satisfaçam acima de tudo,
independentemente da distância a que eles se situam. Veja-se o caso
de Gouveia e do POM 2014 que é, afinal, o culminar de todo um
projeto que começou há dois anos e cujo objetivo é fazer com que
Gouveia se fixe como um dos grandes centros da Orientação em
Portugal. Mas o projeto só será válido se tivermos bons terrenos,
que felizmente Gouveia tem. Agora, alguém nos diz, “olha, temos um
apoio forte, vamos fazer ali uma prova”. Essa não é a
preocupação. A preocupação é a excelência dos terrenos e,
portanto, vamos apostar na dinamização deste pressuposto e esperar
que a Orientação, de alguma forma, saia a ganhar com isto e,
naturalmente, também o clube e as pessoas que estão envolvidas.
E as regiões? Que
partido é que as regiões tiram disto? Lança-se uma semente e
vemos, com alguma mágoa, que ela não germina... Mora, por
exemplo...
L. S. -
Isso não é inteiramente verdade. Temos hoje um clube – o COAC –
que só nasceu por causa das provas de Mora. Por vezes parece que
nada fica, mas há sempre algo que se ganha em ir a determinado local
e em puxar pelas gentes dessas regiões. De facto, gostaria que
tivessem acontecido muitas mais coisas em Mora e não aconteceram.
Mas o que estamos a fazer em Gouveia é o resultado duma aprendizagem
baseada precisamente naquilo que falhou em Mora. E sentimo-nos
gratificados pelo facto de a autarquia valorizar as nossas indicações
e estar muito centrada nas questões que têm a ver com os Campos de
Treino, com os Percursos Permanentes, com tudo o que de alguma forma fique
para dar continuidade àquilo que é o projeto de Gouveia. As coisas
não se podem esgotar no Portugal O' Meeting – por maior que seja a
sua dimensão -, mas terá de ficar muito mais do que isso para a
região.
M. D. -
Pegando nas palavras do Luís ainda em relação à questão
anterior, quando trabalhamos com as autarquias temos de ter uma
grande honestidade, pedindo apenas aquilo que elas nos podem dar, sob
pena de virmos a esgotar os apoios em ocasiões futuras. Por outro
lado, é lógico que também pode haver outros Municípios a
procurar-nos, mas a resposta tem de ser dada em função da qualidade
dos terrenos. E cito o caso do Município de Arronches, um Município
que tem vontade...
L. S. -
Também temos um caso desses com Alcácer do Sal; também tentámos
mas não havia qualidade nos terrenos...
M. D.
- Pois, é isso. O problema é que em Arronches os terrenos são
pobres. Por mais boa vontade que tenhamos, torna-se difícil
responder às propostas do Município. Tem de ficar sempre algo na
região, a região tem de sentir que somos uma mais-valia e
felizmente temos sentido isso no Município de Idanha-a-Nova. Caso
contrário, os projetos esgotam-se, o que é mau para nós, para a
modalidade em si e mesmo para futuras organizações noutros
Municípios.
A. A. -
Ainda relativamente a esta questão, é fundamental a envolvência de
alguém que esteja implantado localmente. Não só o Município, mas
é necessário alguém local que garanta a continuidade, algo que os
clubes que organizam a grandes distâncias não conseguem fazer.
Quando organizámos o POM em 2007, em S. Pedro do Sul, não
envolvemos o COV e isso,
em termos de implantação da modalidade, teve como resultado
praticamente zero. Com o envolvimento do COV na organização do POM
2012, isso permitiu-lhes avançar com as suas próprias atividades e
agora Viseu irá ter Orientação por muitos e bons anos,
independentemente de ter lá ou não o Ori-Estarreja. Se em
Idanha-a-Nova, por exemplo, não se conseguir isso, não será a ADFA
que, a duzentos quilómetros de distância, conseguirá corresponder
às solicitações várias, ao pedido duma formação numa escola, por
exemplo.
Mas ainda em relação
às autarquias, há um aspeto que me parece estranho. Eu não tenho
ideia de ver com frequência pessoas da autarquia que vai realizar o
POM no ano seguinte a acompanhar o evento e a tentar perceber como é
que as coisas se processam. É assim tão difícil tirar as pessoas
dos gabinetes?
L. S.
- Esse nosso esforço já começou há dois anos e nunca conseguimos
levar ao POM o “staff” da Câmara de Gouveia. Aquilo que eu sinto
é que, “se não vai Maomé à montanha, terá se ser a montanha a
vir a Maomé”. E foi isso que fizemos em Gouveia. Quando há dois
anos organizámos lá o Meeting, tivemos um prejuízo tremendo, mas
porque queríamos lançar a semente nesses terrenos. Aquilo que realmente sentimos é que as equipas municipais são muito curtas, têm muitos
projetos e torna-se difícil fazê-los viver o projeto em
continuidade.
M. D.
- Esta questão da continuidade é realmente importante. Não estamos
a falar da situação do CPOC em Gouveia, até porque em
Idanha-a-Nova já organizámos imensos eventos. Mas vamos continuar a
organizar e cito o exemplo do Nacional de Orientação em BTT. Ora,
toda a gente sabe o que representa hoje em dia organizar um
Campeonato de Orientação em BTT para pouco mais de cem atletas, a
mais de duzentos quilómetros de casa. Mas insistimos. E insistimos
porque as pessoas ligadas à Câmara têm de se inteirar, cada vez
mais, de toda esta dinâmica ligada à Orientação. Idanha-a-Nova já
sabe, já conhece. Com Gouveia é tudo muito mais difícil porque
eles não fazem ideia do que isto é.
De que forma o papel
da Comunicação Social pode ser fundamental neste dar a ver o que é
o Portugal O' Meeting? Ou, dito de outra forma, que avaliação se
pode fazer da Comunicação no Portugal O' Meeting?
L. S.
- Acho que o World of O é a prova evidente de que todas as atenções
estão centradas nesta altura no Portugal O' Meeting. Todos os
atletas vão lá escrever, principalmente sobre Portugal e, nalguns
casos, sobre o Portugal O' Meeting. Mas isto é um aspeto da
comunicação voltada para dentro da modalidade e que destoa
claramente daquilo que se poderia fazer para fora, nomeadamente a
nível nacional. Mas aí é mais um problema da modalidade em si e do
desconhecimento que ainda existe daquilo que é a Orientação.
A. A.
- Ao nível da Comunicação, o POM tem melhorado muito, mas tem
melhorado duma forma externa às próprias organizações. O problema
é que há duas ou três pessoas muito envolvidas com a organização
e que seriam as pessoas ideais também para a parte da Comunicação,
mas que não têm disponibilidade para o fazer. A prioridade é a
parte técnica e organizativa e não sobra tempo para mais nada.
Meter alguém na parte da Comunicação que não está por dentro das
coisas, que não sabe, não acrescenta nada. Portanto, se não for
alguém como o Orientovar ou agora o Orievents, alguém que já
conhece por dentro a modalidade e que já é quase independente para
ir à procura da informação que realmente conta, continuaríamos
como há cinco ou dez anos atrás. Se a parte da Comunicação
tivesse o mesmo peso da parte técnica duma prova, claramente
arranjávamos tempo e as coisas evoluiriam muito mais e mais
depressa. Mas a Comunicação continua a ser vista como um apêndice
de todo o trabalho organizativo.
M. D. -
Como tive a preocupação de ir buscar gente de fora para garantir o
melhor desempenho ao nível da cartografia, do speaker ou da
alimentação neste POM, também tive essa preocupação ao nível da
Comunicação. Ou seja, tentei, a um ano de distância, pôr em
marcha um projeto de Comunicação que pudesse garantir a necessária
continuidade e não obtive resposta. Eu não tenho que me imiscuir
nas quintas alheias, porque cada um tem a sua. Mas acho estranho que
uma prova que é a menos participada das três provas WRE, seja
aquela que tem mais publicidade, mas três vezes mais. Se estamos
perante um conflito de interesses, claramente é a Federação
Portuguesa de Orientação que terá de agarrar nesta área ou então
dizer quem o deverá fazer. Se nos aspetos técnicos e logísticos os
clubes que organizam o POM ainda vão tendo valências, no aspeto da
Comunicação os Clubes, há exceção do Quatro Caminhos, não têm
essas valências. Logo, deve ser o setor de Comunicação da FPO a
garantir que as coisas se façam com a dimensão que o Portugal O'
Meeting merece e exige. Não é a imagem do clube que passa, é a
imagem da modalidade, da região, do País.
A. A. -
Não quero contrariar essa opinião, mas também tenho a minha. O
NAOM foi a prova que teve mais publicidade, mas também porque teve
alguém na organização responsável por isso. Hoje há no Orievents
aquilo que não há em mais lado nenhum, há um trabalho contínuo
que tem sido feito e hoje há conhecimentos e há contactos que são
o fruto desse trabalho. Para ter visibilidade em termos de
Comunicação, uma organização ou se socorre do Orientovar e do
Orievents ou terá de investir em recursos próprios e começar a
fazer também um trabalho de longo prazo.
L. S. -
Hoje vemos muito mais coisas do que víamos há quatro, cinco, seis
anos atrás. O que se fez foi, seguramente, muito mais do que se
fazia nessa altura. Mas os patamares de exigência agora são outros
e a nossa tendência é a de colocar a bitola cada vez mais alta. Se
calhar o POM e a quantidade de estrangeiros que atrai até nós está
a mascarar um bocadinho aquilo que são as dificuldades a nível
nacional.
A Federação
Portuguesa de Orientação ensaiou este ano, pela primeira vez, um
Quadro Competitivo Nacional em que alinha as três provas WRE em três
fins de semana consecutivos. Esta situação representa uma
mais-valia para o próprio POM e, dum modo mais lato, para a
Orientação portuguesa?
L. S.
- Eu penso que sim, sobretudo para a Orientação portuguesa no
Inverno. Como sabemos, no próximo ano teremos a primeira ronda da
Taça do Mundo a colidir com o Portugal O' Meeting em termos de
datas. Mas não colide, nem com o WRE antes do POM, nem com o WRE
depois do POM. Ou seja, há um leque de ofertas, tanto em Campos de
Treino como em eventos, que faz com que estejamos a lutar pela
promoção da Orientação portuguesa no Inverno. É isso que está
em causa e não o Portugal O' Meeting. E é este leque de ofertas que
nos poderá dar alguma força para conseguirmos conquistar o
“coração” dos orientistas de outros países para virem a
Portugal, em vez de irem à Turquia ou em vez de irem a Espanha. Eu
sei que a Taça do Mundo na Turquia vai roubar praticantes ao
Portugal O' Meeting. Mas se a nossa oferta for boa, vamos ter muitos
mais atletas do top-100 mundial em Portugal do que irão estar na
Taça do Mundo na Turquia. E o evento deste ano na Nova Zelândia
serviu de alerta para vermos qual o grau de importância que os
atletas atribuem à Taça do Mundo. E aquilo que tivemos na Nova
Zelândia, sendo muito, resume-se a quatro grandes seleções e são
essas quatro seleções que poderão estar mais “tremidas” para
termos cá entre nós em 2014. Ou seja, preocupamo-nos com aquilo que
a prova da Turquia pode retirar em termos de participações ao
Portugal O' Meeting e à Orientação no próximo ano, mas estamos
convictos que a quebra não será grande, ou seja, há umas pessoas que
escolhem a semana antes, há outras que escolhem a semana depois,
temos oferta e depois cabe às pessoas escolherem.
A. A.
- Eu pego nas palavras do Luís e reforço aqui a ideia da oferta.
Quando tínhamos apenas duas provas WRE, resumia-se tudo a pouco mais
de uma semana e isso, em muitos casos, poderia não ser
tão apelativo. E
depois havia a questão do terceiro WRE que andava a saltar, umas
vezes era no Inverno, outras era no Verão ou juntava-se ao
Campeonato Ibérico, ou seja, era completamente perdido. Se
analisarmos apenas os números, vemos que esta foi já uma aposta
ganha.
M. D.
- Não posso considerar que o WRE de Arronches, no ano passado, tenha
sido completamente perdido. Tivemos o Thierry Gueorgiou, tivemos o
Philippe Adamski, ou seja, estas coisas nunca são completamente
perdidas. Agora, estatisticamente falando, se atentarmos nos números
do POM deste ano e do WRE na semana a seguir, vemos que é
equivalente ao que se verificou nos últimos anos. Mas já o NAOM
teve realmente uma expressão que o terceiro WRE até aqui não
tinha. Na prática, o que nos apraz registar é que este modelo
conseguiu trazer mais atletas a Portugal. E no futuro? Vamos ter de
perceber de que forma os calendários dos países emergentes podem
vir a penalizar-nos. Eles já perceberem que a “galinha dos ovos de
ouro” está nesta época do ano e vão começar a aproveitar-se
disso.
L. S. -
Gostaria só de dar uma achega. Esta situação só é exclusiva de
Portugal porque ganhámos essa batalha a Espanha. E ganhámos
precisamente pela quantidade e qualidade da nossa oferta, o que
levou a Espanha a ajustar-se aos nossos “timings”. Ou seja, eles
puseram o calendário deles a funcionar em Março e essa foi a forma
de “colmatar o prejuízo”.
M. D. -
É precisamente isso. E se nós conseguirmos continuar a mostrar
qualidade, a qualidade vende sempre. Quando o Thierry Gueorgiou diz o
que diz de Portugal, não o diz porque alguém lhe está a pagar para
o dizer. Aquilo é sincero. Nós já atingimos níveis de excelência
ao nível das nossas organizações e são estes níveis de
excelência que podem fazer com que os estrangeiros nos continuem a
procurar.
Como é que
encarariam a possibilidade de vir a ser a própria Federação a
organizar o Portugal O' Meeting?
M. D. -
Penso que, enquanto os números do Portugal O' Meeting se mantiverem
em torno dos dois mil, dois mil e quinhentos participantes, ainda
temos clubes em Portugal com capacidade para organizarem o Portugal
O' Meeting. Mesmo que esses clubes se tenham de socorrer de algumas
pessoas externas ao clube, em determinadas áreas. A partir de
determinado número de participantes, o número de pessoas implicadas
na organização será de tal maneira elevado que a capacidade dos
clubes deixa de existir. Mas não nos podemos esquecer que este
modelo tem uma vantagem. É que nós, nos nossos clubes, conhecemos as
pessoas, sabemos em que posições é que elas encaixam melhor.
Quando começa a haver muitas parcerias, perde-se essa interligação,
deixa de ser reconhecer as mais-valias de cada um e as coisas poderão
não correr tão bem.
A. A.
- A Federação organizar um evento como realizou os Mundiais de
Veteranos é uma coisa. Foi quase uma causa nacional, os clubes
vestiram todos a mesma camisola e realmente as coisas funcionaram
muito bem. Mas se fosse algo do género no caso do POM, não funcionava. A Federação
teria sempre de se apoiar num clube para ter as pessoas-chave, uma
vez que a Federação não as tem, e ao ter as pessoas-chave desse
clube, elas iriam socorrer-se dos elementos do seu próprio clube e o
modelo acabaria por derivar no mesmo. Poderemos vir a ter de recorrer
a um modelo em que a Federação privilegia as candidaturas conjuntas
em detrimento das candidaturas de um só clube. Mas mais do que isso
não estou a ver.
O POM consegue
atrair um número muito elevado de participantes, mas só é
praticamente falado ao nível das “minorias”, dos atletas de
Elite. O POM está a tornar-se demasiado elitista?
A. A. -
Salvaguardando as devidas proporções, passa-se na Orientação
aquilo que se passa no Futebol, por exemplo. Quem vende é o Ronaldo
e o Messi, quem vende é a Simone Niggli e o Thierry Gueorgiou. É o
número 1 do Mundo que está cá, é isso que as pessoas querem
ouvir. Não há grande volta a dar. Mas a terceira idade, embora
noutros segmentos de Comunicação, também vende. Fazer passar a
mensagem de que este POM teve mais de cem atletas acima dos 75 anos,
para uma franja da nossa população é mais importante do que
saberem que estiveram cá nove dos dez melhores do mundo, por
exemplo. Dar um peso excessivo às elites pode ser mesmo
contraproducente e afastar participantes. Para os menos
familiarizados com a Orientação, uma coisa é saber que esta é uma
modalidade para todos e outra é ouvir dizer que estão ali os
melhores do mundo, logo isto não é para eles.
L. S.
- Aliás, passa-se o mesmo com os Campeonatos Nacionais. As pessoas
vêem que se trata dum Campeonato Nacional, logo isto não é para
elas. O esforço de comunicação é importante, não podemos deixar
ninguém de fora mas é muito importante que se fale das Elites. O
meu filho tem nove anos e está sempre a perguntar-me se esta ou
aquela prova é a prova em que teremos cá o Thierry. Ou seja, ele
revê-se nisto, revê-se nos grandes nomes da Orientação e isto tem
de ser acautelado e valorizado.
M. D.
- O facto de termos cá o Thierry, a Simone, o Olav ou o Matthias é
um chamariz, ou seja, é uma oportunidade única de os ver e o
pessoal do pelotão vem também por isso. Ou seja, eu diria que o POM
é, felizmente, elitista. E digo “felizmente” porque, nesta
altura do ano, termos 330 atletas de Elite entre nós, como o POM
teve, é muito bom. Por ser a altura do ano em que é, por atrair os
atletas que atrai, o POM terá sempre um caráter elitista.
Se atentarmos num
evento-modelo como é o O-Ringen, vemos que tem havido um esforço no
sentido de ajustar a oferta a todos os públicos. Entre nós o POM
tem, desde 2010, Orientação de Precisão e agora só falta a
Orientação em BTT. É possível equacionar um cenário destes no
futuro?
A. A.
- Isto, claramente, não era uma mais-valia para o Portugal O'
Meeting. A preocupação, já aqui o dissemos, é termos terrenos de
qualidade e um POM em simultâneo de Pedestre e BTT é uma situação
pouco compatível com as duas disciplinas num espaço relativamente
próximo. Nunca tinha pensado nisso, mas atendendo à nossa realidade
não consigo encontrar méritos na ideia.
L. S.
- E o número de pessoas implicado na organização teria de ser
muitíssimo mais elevado. O O-Ringen chega a ter seiscentos,
setecentos colaboradores e nós trabalhamos com menos de cem.
O Portugal O'
Meeting 2014 será em Gouveia e o Luís Santos tem o encargo de gerir
o evento. Que conselhos é que têm para lhe dar?
A. A. -
O Luís Santos não precisa de conselhos. Além de ter organizado há
relativamente pouco tempo, o ano passado foi supervisor do POM e
sabe, melhor que ninguém, como estas coisas são. Mas apesar da
maior ou menor experiência que possamos ter, o problema é que nem
sempre temos condições para fazer o que tem de ser feito. Num POM
há sempre situações que escapam ao nosso controlo – este ano
houve, o ano passado se calhar houve mais mas não transpareceram
como este ano – e, independentemente de termos planos A, B ou C,
quando os problemas surgem temos sempre de improvisar. Daí que o
conselho vá no sentido de guardar reservas para esses quatro dias,
ter algum “back-up”, porque são quatro dias duma intensidade
enorme.
M. D. -
Eu só acrescentaria um aspeto, que foi onde este ano senti alguma
dificuldade. É fundamental levar para Gouveia toda a equipa o mais
cedo possível. Se as pessoas só chegam na véspera, em cima do
acontecimento, é muito complicado.
A. A. -
E é importante que a informação esteja difundida pelo maior número
de pessoas possível. Não concentrar apenas numa pessoa uma
tarefa-chave da organização. Qualquer pessoa pode ser uma ajuda
importante num determinado momento. Mas só o pode ser se tiver
conhecimento daquilo que há a fazer, como é que as coisas estão a
funcionar. Eu senti isso o ano passado, tinha duas ou três pessoas
capazes de fazer qualquer coisa, mas se estivessem ocupadas eu não
tinha ninguém para acudir a uma coisa qualquer, por muito simples
que fosse.
M. D.
- Só para acabar, um último conselho. Quando planeamos o trabalho,
quando planeamos as equipas e distribuímos tarefas, devemos incutir
em todos uma noção: Num POM não há equipas estanques, não há
“quintinhas”. Só há uma quinta e é a camisola da “quinta”
que todos têm de vestir. Não podem estar a assobiar para o lado se
virem a “quintinha” do vizinho a arder. O grupo perceber que é
um só é fundamental para que depois não haja uma coisa que são as
quezílias e os “quiproquos”.
L. S.
- Acho que um dos grandes problemas reside no facto de nós,
responsáveis da prova, não sermos profissionais da Orientação.
Todos temos as nossas vidas para gerir enquanto estamos a dirigir um
Portugal O' Meeting e de repente passa a ser o Portugal O' Meeting a
gerir a nossa vida, é verdade (risos). Por outro lado, a questão
das distâncias é um problema e termos em Gouveia o maior número de
pessoas o mais cedo possível é crucial. De alguma forma em 2009
conseguimos isso, mas entretanto o CPOC mudou bastante. Tivemos em
Mora oitenta e tal pessoas e provavelmente não irei conseguir ter em
Gouveia sessenta. Condicionantes de ordem ávria, saídas, entradas,
fazem com que o grupo seja diferente nesta fase. Vamos ter em Abril o
Campeonato Ibérico, será já um grande teste à nossa capacidade
organizativa atual e veremos como resulta.
Saudações
orientistas.
JOAQUIM MARGARIDO