[Embora haja avaliação também nas
provas de Orientação em BTT, esta análise restringe-se às provas
pedestres e as opiniões ou sugestões emitidas refletem, no
essencial, o entendimento dos restantes elementos da Comissão de
Avaliação de Provas Pedestres]
A avaliação de provas começou em
2003-2004, com uma grelha que João Oliveira (COC), na altura na
Direção da FPO, enviava, depois de cada prova, a um grupo de cerca
de 20 atletas que atribuíam notas de 1 a 5 em 23 campos de
pontuação. Em 2004/2005, constituiu-se a primeira CAP, coordenada
por Albano João e já com a configuração que basicamente ainda
mantém: 6 elementos, sendo na altura 3 do Norte e 3 do Sul, porque
havia um Ranking Regional Norte e um Ranking Regional Sul. A grelha
dessa temporada introduziu a votação de 1 a 20 e eram considerados
21 campos de análise agrupados em 5 áreas de pontuação.
Em 2005-2006, foi adotada uma grelha
com 12 campos de pontuação obrigatória (“aspetos primários”),
mais 17 de preenchimento facultativo (“aspetos secundários”) e,
ainda, três de bonificação ou penalização extraordinária, mais
duas hipóteses de penalização por falhas de ordem técnica e uma
bonificação em caso de cobertura O-TV. O Terreno contava a dobrar e
a Cartografia e Percursos a triplicar. Em 2006-2007, com António
Amador agora na coordenação da CAP, onde permaneceu até 2010, a
grelha manteve a mesma estrutura mas sofreu alguns arranjos no
sentido de a tornar mais operacional.
A crescente consolidação das boas
práticas organizativas na maior parte dos campos até então
avaliados separadamente, levou a CAP a privilegiar, em 2008-2009, a
análise de quatro áreas fundamentais - terreno, percursos, arena,
cartografia -, reunindo todos os demais itens dentro de um quinto
campo de pontuação. Curiosamente, e porque se considerou que a
Cartografia melhorara bastante nos últimos dois anos, esse item
perdeu o estatuto de dupla votação, trocando com a Arena, que
passou assim a emparceirar com os Percursos e Mapas na linha dos
aspetos preponderantes para o estabelecimento da nota final. Esta
grelha vigorou de 2008 a 2010.
CAP integra Juniores
Em Maio do ano passado, após a “crise
diretiva” na Federação, constituiu-se a mais jovem CAP de sempre,
com dois juniores, dois seniores e dois veteranos. O primeiro
trabalho desta CAP foi redigir um corpo de regras, a que chamou
“Critérios de Avaliação 2011”. Não se descobriu a pólvora,
evidentemente. Mas deu-se uma nova arrumação aos parâmetros que já
eram utilizados para análise e foram introduzidas duas ou três
miras novas para aumentar a pontaria das conclusões.
A atual grelha de avaliação é
basicamente a que vinha de 2008-2009. Apenas foi conferida nova
hierarquia aos cinco campos de votação, elegendo como
cavalo-de-batalha a área dos Percursos, única que agora conta a
dobrar. E, no cabeçalho, além dos nomes do clube organizador e
supervisor, passaram a figurar também os do cartógrafo e traçador
de percursos.
Acesso aos mapas de todos os
percursos
Já foi dito que os Percursos são o
único item que conta a dobrar. E, dado que constituíram a grande
aposta deste ano e meio, conseguiu-se, pela primeira vez desde que há
CAP, que, por indicação federativa, cada organização facultasse
um jogo de mapas de todos os percursos. Na maior parte dos casos, as
organizações tiveram a gentileza de disponibilizar esses mapas
imediatamente após a partida do último atleta, o que, nos eventos
de dois dias, tem permitido que, ainda no local e na noite de sábado,
seja feita uma primeira análise aos percursos a tempo de suscitar
uma troca de impressões antes da entrega de prémios no domingo.
Temos de ser realistas: a profundidade
e celeridade da análise também estão condicionadas à nossa
disponibilidade de tempo e à concentração de provas que às vezes
se verifica, com especial destaque para os três eventos WRE. Neste
ano de 2012 “resolvemos” o problema deixando, com a compreensão
da Federação, arrastar as avaliações por tempo excessivo. Sem
falsa modéstia, temos a sensação de ter feito algum bom trabalho,
mas não dispensamos a autocrítica: para que as avaliações
produzam efeito têm de chegar aos destinatários antes que se
apaguem os ecos das suas organizações. Vamos certamente melhorar
este aspeto, apontando para duas semanas como tempo máximo para
entrega de cada relatório.
Aspetos mais marcantes em 2012
Eis alguns apontamentos sobre aspetos
marcantes em cada um dos cinco campos de avaliação, tomando como
referência sobretudo provas do calendário 2012. Para o fim fica o
item Percursos sobre o qual incide um pouco mais de atenção.
1. Terreno
O Terreno foi o campo que mereceu a
nota média mais elevada nas avaliações feitas este ano. Não é de
estranhar num país onde, apesar da reduzida área geográfica, temos
a felicidade de dispor de uma enorme variedade de terrenos, como
amiúde sublinham praticantes de Elite estrangeiros que nos visitam.
O destaque mais positivo vai para o
terreno do Senhor dos Caminhos, em Sátão. O percurso WRE, aí
corrido no 3º dia do POM, foi recentemente eleito o melhor percurso
do ano a nível mundial. Pela negativa, revelaram-se inadequados à
disciplina os dois terrenos de floresta escolhidos para sprint (2
junho e 20 outubro). Também se regista como menos positiva a
utilização do mesmo mapa para duas provas da Taça de Portugal –
Nível 2, com menos de cinco meses de intervalo (17 junho e 4
novembro).
2. Cartografia
Passando à Cartografia, forçoso se
torna reconhecer que, relativamente às provas de floresta, este é o
campo mais difícil de avaliar no âmbito da CAP, porque o confronto
mapa/terreno é apenas testado durante a prova de cada um dos seis
elementos da Comissão. Ainda assim, é possível detetar situações
duvidosas que, após discussão e nalguns casos recolha de opiniões
exteriores, acabam por revelar-se, com elevado grau de probabilidade,
desacertos na cartografia.
Os problemas mais persistentes e,
portanto, mais graves dos nossos mapas têm a ver, na maior parte dos
casos, com a falta de rigor nos elementos de vegetação que
representam tipos de vegetação de reduzida velocidade de
progressão. De vez em quando, também houve caminhos a mais ou a
menos, ou com classificação menos apropriada, mapas em que
apareceram reduzidos os símbolos pontuais (pequena depressão,
buraco, cota, poço, árvore especial, etc.) e mapas de legibilidade
difícil na escala 1:15000 devido ao excesso de elementos
representados.
Fica ainda o registo de que foram
detetadas incorreções a nível de altimetria, houve mapas sem
meridianos ou com eles a distância irregular, e outros sem indicação
das curvas de nível mestras ou com elas indicadas de modo
impercetível em corrida. Por fim, assinala-se, nos mapas de sprint,
um frequente incumprimento de algumas normas do ISSOM, não faltando
exemplos de mapas que usam especificações desse regulamento em
simultâneo com outras do ISOM.
3. Arena
A escolha do local é meio caminho
andado para uma boa Arena. Tivemos este ano alguns espaços
extraordinários e, normalmente, os serviços de secretariado,
baby-sitting, informática e bar funcionaram bem, mas nem sempre de
forma articulada. Quanto à locução, este é um dos fatores que
mais distingue as Arenas, desde que no mais estejam assegurados os
“serviços mínimos”. Depois do espetáculo de Sátão (POM/WRE),
quase logo no início da temporada, todas as outras locuções
souberam a pouco. Mas houve, mesmo assim, algumas prestações
bastante razoáveis ao longo da época.
4. Impressão Geral e aspetos
secundários
Os itens compreendidos nos “aspetos
secundários” foram, de um modo geral, cumpridos satisfatoriamente,
apesar de aqui e ali ter havido falhas graves. Quanto às falhas,
começamos por registar duas ocorrências particularmente negativas,
a primeira das quais relativa às Cerimónias de Entrega de Prémios
(confusão num apuramento de resultados e consequente entrega
indevida de medalhas e adiamento de uma entrega de prémios). O
segundo tipo de ocorrência negativa foi o atraso nas partidas e
verificou-se em duas provas da Taça de Portugal – Nível 1.
O facto, todavia, que marcou mais
negativamente esta época foi, sem margem para qualquer dúvida, a
anulação da final masculina do Campeonato Nacional Absoluto (CNA).
Partindo de aspetos menos comentados desta experiência, parece
oportuno deixar três reflexões à especial atenção dos futuros
organizadores do CNA, tanto mais que não temos conhecimento de
alterações, na proposta de Regulamento de Competições (RC) para
2013, sobre definições desta competição.
1. Embora o RC em vigor diga que a
qualificatória é “uma prova de Distância Média”, parece ser
de toda a conveniência que o traçador tente planear um percurso
para um tempo de vitória na ordem dos 25 minutos. Os últimos
apurados este ano fizeram 60 minutos na qualificatória masculina e
75 na feminina. E entre os que não foram à final houve quem
gastasse mais de duas horas para cumprir o percurso de sábado.
2. Outra exigência do CNA é que os
percursos de sábado têm de ser “semelhantes”. Este termo usado
no RC cria uma nociva margem de tolerância, que não pode ser muito
alargada, sob pena de subverter a especificidade do CNA – a única
prova em que todos os escalões de competição correm o “mesmo”
percurso. Uma atitude protecionista em relação aos escalões mais
fracos, oferecendo-lhes no sábado percursos visivelmente mais
acessíveis, é duplamente censurável: além de desvirtuar o sentido
do campeonato “Absoluto”, corre o risco de proporcionar o
apuramento de praticantes que não estão preparados para as
exigências da prova de domingo. É, nessa perspetiva, um presente
envenenado.
3. Para a final do CNA, o RC prevê
duas hipóteses: Distância Média “incrementada” ou Distância
Longa “reduzida”. Qualquer que seja a opção, há um preceito
que não deve ser esquecido: se a prova está teoricamente ao alcance
de praticantes que militam em escalões abaixo de H/D18 e acima de
H/D40, então a escala do mapa nunca deverá ser inferior a 1:10.000.
Talvez por isso, também, fosse preferível apostar em Distância
Média em vez de Longa.
Percursos
Houve, nos Percursos, falhas de
diferente natureza: pernadas difíceis em percursos supostamente
fáceis e pernadas sem interesse de navegação em percursos
exigentes; e houve pontos “escondidos”, estacas sem prisma,
escala inadequada em determinados escalões, agrupamentos incorretos
(por exemplo H20/H21B), pontos em linha, pontos repetidos nos dois
dias, um primeiro ponto de HE igual ao primeiro ponto de H/D12, erros
de sinalética, triângulos de partida a darem vantagem a quem lá
não fosse, falta de fiscalização no atravessamento de zonas
interditas, etc.
Mas centremo-nos num aspeto que foi uma
nossa preocupação constante e que tem a ver com o ajustamento em
termos de tempo. Para dar uma ideia global do nível de ajustamento
nas provas de Distância Longa e Média avaliadas este ano pela CAP,
preparámos um quadro com os desvios por defeito e por excesso, ou
seja, quantos minutos é que o vencedor de cada escalão fez abaixo
do limite inferior ou acima do limite superior do intervalo
recomendado. A soma desses dois desvios dá-nos a medida do desacerto
em relação ao tempo ideal.
Olhando então para este quadro, temos
que, em provas de nível 1 (Distância Longa e Média), o ajustamento
mais conseguido verificou-se numa prova de Distância Média em que,
para o conjunto dos 32 escalões da análise mais abrangente, o erro
foi de 48 minutos (22 por defeito, 26 por excesso), ou seja, em média
1,5 minutos por escalão. Pela negativa, destacam-se três provas
cujo desajustamento ultrapassou os 700 minutos nos 32 escalões. Numa
delas esse desacerto foi de 849 minutos (todos por excesso), o que
representa uma média de 26,5 minutos a mais por escalão.
Contudo, se compararmos o quadro global
com um quadro restrito de 19 escalões (no qual excluímos os
escalões de formação, os H/D14, H/D21A e H/D21B e ainda os
escalões D60, H65 e H70), é fácil perceber a persistência de um
vício antigo que ainda não foi completamente debelado. Trata-se da
tendência para investir sobretudo no planeamento dos escalões
“nobres”. Uma consulta mesmo superficial aos resultados da
maioria das provas permite concluir que os desacertos em H/DE e, de
uma forma mais geral, nos escalões do miolo competitivo é muito
inferior à média dos desacertos nos escalões “periféricos”.
No caso que melhor ilustra essa discrepância, cai-se de um desvio de
789 minutos para 214, respetivamente nos 32 e nos 19 escalões do
miolo competitivo. Ou seja, baixa-se de um desvio médio de 24,7
minutos para 11,3 minutos por escalão, com a particularidade de se
poderem considerar (quase) inteiramente ajustados os escalões
“nobres” por excelência: HE, DE, H18, H20, H35, H40, H45.
Temos estado a olhar para a tabela no
sentido vertical. Analisada na horizontal, dá-nos a frequência do
desvio por escalão. E aí a primeira evidência é que, em todas as
faixas etárias, o desacerto é sempre maior no escalão feminino do
que no masculino. Com exceção da Elite, todos os escalões
femininos a partir de D18 foram duramente castigados. Estamos a falar
em desvios médios que no geral ultrapassam em mais de 20 minutos o
limite máximo do intervalo recomendado.
Algumas das falhas mais apontadas nos
nossos relatórios parecem resultar do facto de os percursos não
terem sido suficientemente testados. Esse exercício começa por ser
fundamental para detetar eventuais imperfeições da cartografia na
zona do ponto de controlo ou nas áreas de passagem das melhores
opções de itinerário. E é também imprescindível para aferir o
ajustamento dos percursos aos escalões a que se destinam. Por maior
que seja a experiência do traçador e o seu conhecimento da
“velocidade” em determinado terreno, não há maneira mais segura
de prever o tempo do vencedor do que pôr um “atleta adequado” a
testar cada percurso.
Termino com uma nota de apreço. Apesar
de todas as limitações que aqui foram apontadas e de muitas outras
falhas menores de que seria impossível fazer uma enumeração
exaustiva, o balanço da época 2012, não obstante o trambolhão
final, é francamente positivo. A distinção para o melhor percurso
do ano, a nível mundial, não surge por acaso. Portugal continua a
marcar pontos no calendário das competições de inverno. Mas,
atenção, é preciso manter vigilância e reforçar o controlo de
qualidade na origem. Um edifício que demorou anos a levantar pode
vir abaixo com uma atuação desastrosa. Longe vá o agoiro!
Manuel Dias
[Artigo extraído da Orientação em Revista – Edição Especial, em http://content.yudu.com/Library/A20rjr/OrientacaoemRevistaE/resources/index.htm?referrerUrl=http%3A%2F%2Fwww.fpo.pt]
Manuel Dias
[Artigo extraído da Orientação em Revista – Edição Especial, em http://content.yudu.com/Library/A20rjr/OrientacaoemRevistaE/resources/index.htm?referrerUrl=http%3A%2F%2Fwww.fpo.pt]
Saudações orientistas.
JOAQUIM MARGARIDO