Dezasseis títulos individuais
para Portugal contra três dos espanhóis e uma expressiva vitória
coletiva para as nossas cores. Eis o resultado dos dois dias de
provas que, este fim de semana, encerraram a 20ª edição do
Campeonato Ibérico de Orientação Pedestre. Individualmente, Pedro
Nogueira e Susana Alves foram os grandes vencedores na categoria
Elite.
Os concelhos da Figueira da Foz e de
Montemor-o-Velho receberam este fim de semana a 2ª fase do XX
Campeonato Ibérico de Orientação Pedestre. Organizado pela Secção
de Orientação do Ginásio Clube Figueirense e integrado no I Troféu
Quiaios Hotel, o evento contou com a participação de 646 atletas,
distribuídos por 32 escalões de competição (dos quais apenas
vinte válidos para o Campeonato Ibérico) e quatro escalões
abertos.
Do programa fizeram parte as três
distâncias clássicas, com as provas a distribuírem-se pelos mapas
da Lagoa da Vela Sul – Bom Sucesso (Distância Média),
Montemor-o-Velho -Vila (Sprint) e Praia de Quiaios (Distância
Longa). António Neto assinou o traçado de percursos sobre o
trabalho de cartografia de Rui Antunes, num evento que contou com
Direção de Rui Mora e Supervisão de Rui Morais.
Ilustres ausentes
O primeiro dia de provas teve início
com uma Distância Média, numa zona de floresta particularmente
apreciada pela sua beleza e pelos desafios que o micro-relevo e a
vegetação sempre colocam. Não demasiado exigente do ponto de vista
físico, a prova viria a ser ganha por Diogo Miguel (Ori-Estarreja)
no escalão de Elite Masculina, impondo-se por margens inferiores a
um minuto aos seus mais diretos adversários, Miguel Silva (CPOC),
Pedro Nogueira (ADFA) e Tiago Gingão Leal (GafanhOri), que
terminaram por esta ordem. O primeiro atleta espanhol a concluir o
seu percurso foi Raúl Ferra Murcia (Lorca-O), no 16º lugar (!), a
7:29 do vencedor.
No setor feminino, Andreia Silva
(COC) foi uma vencedora incontestada, deixando Susana Alves (GD4C), a
segunda classificada, quase a sete minutos de diferença. Entre as
onze atletas que lograram terminar o seu percurso, destaque pela
negativa para a ausência de representantes do país vizinho,
deixando desde logo o caminho livre às atletas portuguesas para
dirimirem entre si a luta pelo título ibérico neste escalão. Mas
se a ausência das espanholas retirou qualidade e competitividade a
um escalão que teria beneficiado com a sua presença – Ona Ráfols,
Anna Serralonga Arqués, Carla Guillén ou Annabel Valledor são,
reconhecidamente, atletas de enorme valor -, ofereceu praticamente de
bandeja o título coletivo a Portugal.
O “mp” de Tiago Aires
Prova concluída, estômagos
retemperados e eis a tribo da Orientação a mudar-se de armas e
bagagens para Montemor-oVelho onde, a meio da tarde, decorreu o
Sprint. A prova teve lugar à sombra do secular castelo, num mapa que
se viria a revelar curto em termos de opções, sobrando-lhe em
exigência física o que faltou em matéria de apuro técnico.
Com o título ibérico “na calha”
- sobretudo após a vitória na fase espanhola da competição -,
Tiago Aires (GafanhOri) acabou por ser o grande protagonista da
jornada, graças a um “mp” que deitou por terra as suas mais
legítimas aspirações (recorde-se que o Regulamento é claro neste
ponto, sendo declarado Campeão Ibérico o atleta que fizer o melhor
resultado “obtido pela soma dos tempos dos seis percursos das duas
etapas”). Com o tempo de 20:02, Miguel Silva viria a ser o mais
rápido, ante o Campeão Nacional de Sprint em título, Tiago Gingão
Leal. No setor feminino, Raquel Costa (GafanhOri) e Andreia Silva
travaram intensa luta, tendo a vitória sorrido à primeira com o
tempo de vinte e quatro minutos exactos, contra 24:32 da sua
adversária. Nesta altura do Campeonato, já Portugal anulara os 125
pontos que trazia de desvantagem de Espanha e caminhava rumo a um
título que não lhe iria escapar. Individualmente, Pedro Nogueira
e Susana Alves partiam para a última prova com doze minutos à maior sobre o espanhol Raúl Ferra Murcia e Liliana Oliveira
(CPOC), respetivamente, vantagem que se poderia considerar, no mínimo, confortável.
A etapa da consagração
A terceira etapa, disputada na manhã
de hoje, viria a ser de consagração para ambos os atletas, levando
de vencida os seus adversários diretos e conquistando o título
ibérico. Raúl Ferra Múrcia e Liliana Oliveira concluíram no
segundo lugar, enquanto a terceira posição do pódio apenas foi
ocupada no setor masculino – por Paulo Franco (COC) -, já que no
setor feminino só as duas atletas mencionadas lograram concluir
as seis etapas do Ibérico sem quaisquer penalizações.
Quanto aos restantes escalões,
merece uma referência o escalão H20 e a sensacional recuperação
protagonizada por Luís Silva (ADFA) ante o Campeão do Mundo de
Distância Longa de Desporto Escolar 2009, Eduardo Gil Marcos
(Tjalve-O), anulando os mais de cinco minutos e meio de desvantagem à
entrada para a derradeira prova. No escalão H35, Alberto Branco (CP
Armada) também conseguiu virar o resultado a seu favor nesta
derradeira prova, ante o espanhol Alberto Minguez Viñambres, o mesmo
acontecendo com Luís Sousa (Clube TAP) ante Vítor Rodrigues (CPOC)
e com Mar Garcia Pérez (Rumbo Madrid) face a Assunção Almeida
(GafanhOri), nos escalões H55 e D50, respetivamente. Por último, fica a curiosidade de Joaquim Sousa (COC), no escalão H40, ter sido o Campeão Ibérico mais folgado, deixando Rui Botão (CPOC), segundo
classificado no conjunto das seis provas, a 1:18:15 de diferença. Coletivamente, Portugal somou 1613 pontos, contra 1429 de Espanha, arrebatando o título.
“Uma prova, um campeão!”
Auscultado pelo Orientovar no
rescaldo do XX Campeonato Ibérico de Orientação Pedestre, Pedro
Nogueira confessou que “todos os títulos têm algo de especial em
si”, deixando subentendido que este não será diferente. O novo
Campeão Ibérico discorda, porém, da forma como são encontrados os
vencedores: “Este é um formato que não premeia a competitividade,
premeia mais a regularidade. Talvez o Tiago [Aires] fosse o atleta em
melhor posição para conquistar este título”.
Lançando o olhar sobre o Ibérico,
no seu todo, Nogueira recorda que “quando corri em Espanha, tinha
um compromisso com o meu clube de Atletismo na semana seguinte e fiz
apenas as provas para cumprir, sem qualquer intuito de vir a ser
campeão. Aqui foi acabar as provas e tive a sorte do Tiago ter tido
aquele azar.” E a terminar, uma observação que encerra, em si
mesma, um lamento: “Uma prova, um campeão! É assim que se fazem
os Campeonatos, não neste formato. Espero que se repense rapidamente
este formato e que as seleções possam regressar. Há uma enorme
magia em vestir o equipamento da seleção e esta era uma das poucas
oportunidades que, enquanto portugueses, tinhamos. Neste momento
acabaram com esta situação, restando-nos a possibilidade de
envergar a camisola no Campeonato do Mundo. Mais nada!”
“Estou surpreendida, não
sabia...”
Susana Alves soube do título
ibérico pelo Orientovar. À surpresa seguiu-se a emoção: “Estou
surpreendida, não sabia... É sempre bom estar na Elite e receber um
título. Mas temos de contar com o facto de não estar cá nenhuma
atleta espanhola e também de algumas portuguesas terem sido
desclassificadas em Espanha.” No conjunto das seis provas, Susana
Alves destaca “as Distâncias Longas, tanto em Espanha como cá.
Foram muito duras e conseguir acabá-las foi mesmo muito bom.”
Quanto ao formato atual do Ibérico,
Susana Alves partilha, em certa medida, da opinião de Pedro
Nogueira: “Não concordo com o formato atual, embora discordasse
igualmente do formato anterior, com as seleções. Acho que não se
deve restringir a uns quantos atletas a possibilidade de chegar aos
títulos. Mas também ser obrigado a cumprir todas as etapas, acaba
por ser complicado. Um Ibérico que contou só com
portuguesas não faz sentido algum.” Assim, um modelo misto
seria o ideal passando pelo “estabelecimento de quotas para cada
seleção, obrigando-as a apresentar um número mínimo de atletas em
cada escalão.” E, a finalizar, a dedicatória do título a uma
pessoa muito especial: “Sem dúvida, ao António Marcolino, meu
treinador e grande amigo!”
Títulos Ibéricos 2012
H/D16 – João Bernardino (COC) e
Beatriz Moreira (CPOC)
H/D18 – Jesús Rodriguez
Corrochano (Toledo-O) e Carolina Delgado (GD4C)
H/D20 – Luís Silva (ADFA) e Vera
Alvarez (CPOC)
H/DElite – Pedro Nogueira (ADFA) e
Susana Alves (GD4C)
H/D35 – Alberto Branco (CP Armada)
e Anna Amigó Bertran (COC Barcelona)
H/D40 – Joaquim Sousa (COC) e
Anabela Vieito (COC)
H/D45 – Armando Sousa (ADFA) e
Alice Silva (GDU Azoia)
H/D50 – Albano João (COC) e Mar
Garcia Peréz (Rumbo Madrid)
H/D55 – Luís Sousa (Clube TAP) e
Cathy Dawson (GafanhOri)
H60 – Manuel Dias (GafanhOri)
Toda a informação em
http://www.iberico.ginasiorientacao.com/.
Reportagem fotográfica alargada do
XX Campeonato Ibérico de Orientação Pedestre:
Saudações orientistas.
JOAQUIM MARGARIDO