
SERRALVES, UM PARAÍSO
No dia seguinte, partimos à descoberta do reputado Parque de Serralves, que seria utilizado como cenário do O`Porto Park Race; ou seja, vamos todos deleitar-nos com o jardim mais paradisíaco da invicta cidade. E quero desde já informar que levei este conselho “à letra”.
Ao entrarmos no perímetro do parque, ficamos desde logo com a sensação que teríamos pela frente um acontecimento de qualidade (ou não estivesse a cargo do GD4C). A área das partidas e chegadas era espectacular. Então a recta final, num tapete verde deslumbrante, prometia sprints apoteóticos. O ambiente era de tal forma apelativo que, por mim, partiria logo a abrir; nem sei como iria aguentar pela minha hora de partida, que seria lá para os confins da manhã. Como tinha trazido uns familiares para fazerem a sua primeira experiência “a solo”, fui-me entretendo a fornecer-lhes umas derradeiras dicas, de forma a não ficarem com nenhum trauma. E não é que eles passaram com distinção?
O tempo continuava a “fazer caretas” mas, comparado com o dia anterior, estava perfeito para mais uma viagem de descoberta. Ainda andava a fazer horas, quando chega o campeão Joaquim Sousa todo “amachucado”, por força dum derrapanço mal controlado. Isto significava um sério aviso à navegação: Cuidado com as zonas húmidas de piso empedrado.
Já tinha visitado este parque há alguns anos e o que me aflorava à memória era a geometria dos jardins, que proporcionaria verdadeiras pernadas labirínticas. Tudo iria depender dos locais onde os pontos fossem colocados mas, conhecendo o traçador, não tinha dúvidas quanto aquilo que me esperava. Simplesmente magnífico!
Se me convidaram para o paraíso, só tinha de o desfrutar e analisando os meus 28 minutos de prova devo ter aproveitado bem (he! he!). Eu era lá capaz de passar por cima duma sebe de rododendros toda artisticamente aparada, só para picar o ponto do outro lado. Não! …Contornava os canteirinhos todos!
Acham que poderia avaliar a beleza daquelas rosas e camélias, sem usufruir do seu aroma? Conseguir abstrair-me das “gipsófilias”, “gambuzinos” e “burriés”, que me iam aparecendo? (he! he!) Claro que não. E não é todos os dias que se pode estar “tu cá tu lá” com sequóias, liquidâmbares ou teixos. Há que não desperdiçar a oportunidade.
Estão a ver-me a calcar a plantação de ervas aromáticas? E os morangueiros? Sou um tipo com princípios, c´os diabos!
Como poderia encontrar a gigante escultural “Colher de Jardineiro” sem a admirar? Quem mandou colocar um ponto mesmo ao seu lado?
Deslumbraram-se com a panorâmica dos jardins da “Casa”? Sentiram o romance no ar, nas margens do lago? Alguém reparou no colorido dos seus peixes? Auscultaram o concerto das rãs? O trinado afinadinho dos melros? Não sabem o que perderam! (façam o favor de lá voltar).
Com todo este comportamento altamente cívico (e porque não erudito-intelectual, mais um termo para o “acordo”, he! he!), resultou que quando ataquei o ponto de verdadeira orientação (58) em plena mata, que não tinha qualquer dificuldade e apenas sobressaía pela diferença, levei com dois minutos bem assentes. Nesse de lá para cá, passo esbaforido três vezes pelo amigo Orlando que, já cansado de me ver a deambular, atira: “Andas a pastar, Luís!” Como é que ele terá adivinhado? Foi o deprimente momento do “espécie”.
Finalmente tive o ensejo de usar a pista verdejante das chegadas e “pernas para que vos quero”. A excelência desta zona funcionou como motivação extra para todos os concorrentes, que dava gosto observar a alegria estampada nos rostos, ao terminarem os seus percursos. Ao presenciar a surpreendente chegada da minha mulher até me assustei, nunca a tinha visto sprintar com aquela vontade (força rapariga, nunca me enganaste!).
Com o esforço, fiquei a “deitar os bofes” e necessitei duns minutos para estabilizar. Mas a alma, essa, encontrava-se em êxtase e desanuviada para mais umas semanas de labuta.
Ah!... O fenómeno do dia: Dizem-me que choveu bastante durante a minha prova!… Acredito…mas não senti…
Luís Pereira