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No âmbito das actividades curriculares do 11.º Ano Tecnológico-Desporto da Escola Secundária Júlio Dinis, o professor Eduardo Ferreira propõe-se lançar um desafio aos seus alunos. Corria o ano lectivo de 2006-2007 e as tardes de quinta-feira passaram a ser dedicadas a uma modalidade desconhecida de muitos. “Faziamos Orientação e os jovens gostavam. Engraçado é que a ideia passou. Começou a falar-se na Escola e fora dela”, explica. A sua iniciativa acabaria por suscitar algum entusiasmo, na perspectiva do relançamento da modalidade em Ovar. O mais lógico seria a reactivação da Secção de Orientação do Clube AFIS, há longos anos estagnada. Havia, porém, um senão: A Direcção do Clube, às voltas com a 19ª Meia-Maratona Cidade de Ovar, tinha achado a ideia inoportuna e votado pela negativa. Ainda assim, com AFIS ou sem AFIS, a Orientação haveria de ir avante.
Num quente final de tarde de sexta-feira, às portas do Verão, o Salão Nobre da Câmara Municipal de Ovar foi palco dum encontro que não poderia ter sido mais conclusivo. Eduardo Ferreira foi um dos convidados. Partilhou do entusiasmo dos presentes e sentiu que a ideia tinha pernas para andar. Sabia que o seu esforço merecia ser ampliado e, apesar da ausência de elementos do Clube AFIS, ali estavam a autarquia e dois dos mais proeminentes clubes de Orientação do nosso país – o Ori-Estarreja e o Grupo Desportivo 4 Caminhos (GD4C) -, na pessoa dos seus presidentes, a dar-lhe a mão. A Direcção do AFIS, porém, acabaria por reconsiderar. “A partir daqui, procurei reunir um núcleo de pessoas que me dessem garantias de desenvolver um bom trabalho e, com toda a nossa inexperiência, fomos para a frente”, concretiza Eduardo Ferreira.
“Gostávamos de criar um público”
Uma das pessoas que aderiu ao convite foi Pedro Silva: “O Eduardo pediu-me ajuda no sentido de relançar a Secção. Era a minha estreia no associativismo mas achei a ideia interessante, já que a Orientação permite um contacto muito estreito com a natureza e eu gosto desse tipo de actividades. Portanto… cá estou eu”, começaria por dizer. Mas há muito trabalho pela frente: “Numa primeira fase, pretendemos chegar à população do concelho de Ovar. Gostávamos de criar um público para a Orientação. Desde logo, indo ao encontro dos associados do Clube. Depois, nas Escolas, criar uma via para chegar até aos jovens, explicar-lhes os fundamentos da Orientação e levá-los a praticar a modalidade.”
“Para levar por diante este esforço de promoção e divulgação da modalidade contamos, fundamentalmente, com o apoio dos AFIS e com a disponibilidade do Ori-Estarreja e do GD4C.” Quem o afirma é Eduardo Ferreira, para logo de seguida reclamar outros apoios: “A Orientação constitui uma forma de promover o concelho, pelo que se justifica que a autarquia nos venha a apoiar de forma consistente. Só assim, à semelhança de outros clubes, poderemos vir a organizar provas que tragam a Ovar orientistas de todo o lado.” De forma realista, Pedro Silva vai admitindo: “Devemos ter consciência de que este é um processo em que temos de lançar bases com alguma calma. Não podemos estar a bater à porta das várias entidades sem termos algo para lhes mostrar. Daí ter surgido a 1.ª Prova de Orientação, a qual veio revelar-se como um bom contributo nesse sentido e julgo que temos algumas condições para tentar envolver a Câmara Municipal de Ovar numa próxima iniciativa e, gradualmente, angariar outro tipo de apoios para as iniciativas da Secção.”
“Temos capacidade para evoluir”
A 1ª Prova de Orientação merece, da parte de ambos, um balanço muito positivo. “Quem participou ficou entusiasmado”, resume Eduardo Ferreira. “Poderíamos ter tido um número mais elevado de participantes mas queríamos testar, sobretudo, os aspectos organizativos. Não queríamos abrir as portas a toda a gente e, de repente, vermos que não tínhamos capacidade para responder a todas as solicitações. Daí termos quase personalizado a divulgação e limitado o número de participantes.” Mas há aspectos a corrigir: “Já contávamos com as várias observações que nos fizeram e estaremos atentos para que as falhas não se repitam no futuro.”
Esse futuro, para Pedro Silva, engloba uma prova urbana, bem no centro da cidade, já em Janeiro de 2008: “Na verdade, a 1ª prova foi a ‘prova zero’. Sentimos que temos capacidade para evoluir, que podemos ser um pouco mais ambiciosos. Será interessante fazer uma prova no coração de Ovar no sentido de criar um pouco mais de dinâmica, de nos aproximarmos da população, porque é inevitável as pessoas confrontarem-se com a prova que está decorrer e procurarem inteirar-se do que se passa.” Mas a concretização desta iniciativa comporta uma dificuldade: “Neste tipo de modalidade a existência de um mapa é fulcral. E nós não temos um mapa do centro da cidade adaptado a este fim. Sentimos que a transposição das plantas existentes para um mapa de Orientação não será um processo de grande complexidade mas necessitará duma forte conjugação de interesses e de apoios. Está tudo dependente disso mesmo”, conclui.

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Orientação e Natureza
Apesar das excelentes condições naturais que o nosso concelho oferece para a prática da Orientação, não se pode escamotear o facto de se tratar duma área particularmente sensível do ponto de vista ambiental. Será a Orientação inimiga do ambiente? Eduardo Ferreira rejeita veementemente a ideia: “Há mesmo uma empatia entre a Orientação e a Natureza”, afirma. Para o seccionista, “chamar as pessoas para a floresta encerra em si a ideia de todos fazermos um esforço no sentido de a preservar, de a manter limpa. Fruir aquele espaço, respirar aquele ar, ajuda-nos a perceber melhor a riqueza do espaço envolvente. Seria mesmo um contra-senso destruí-lo.”
Também Pedro Silva considera que “esta é uma altura privilegiada para desmistificar a ideia que algumas pessoas possam ter da Orientação. Neste tipo de provas há, naturalmente, um espírito competitivo, mas há também muita gente que opta por ter uma atitude mais lúdica, fazendo a prova a passo, ao seu ritmo, interagindo com o espaço duma forma muito intensa. Além disso, é uma preocupação das organizações, no final de cada prova, zelar para que não fiquem resíduos espalhados no terreno. E são os próprios participantes, muitas vezes, a auxiliarem-nos nesse trabalho.”
“Também se faz Orientação na sala de aulas”
As ideias, contudo, não se ficam por aqui. Tornar o sítio na Internet [www.afis.pt] mais informativo, promover a participação em provas organizadas por outros clubes, realizar acções de formação e ir ao encontro das escolas, são outros grandes objectivos no curto e médio prazo. “Contactámos já as três grandes escolas do concelho”, adianta Eduardo Ferreira e concretiza: “Queremos que os alunos venham fazer um percurso de Orientação, na Primavera, no mesmo local onde decorreu a 1ª Prova. O nosso objectivo é ter 200 alunos por escola a participar. E queremos alargar esta dinâmica às Escolas do Ensino Básico. Também se faz Orientação na sala de aulas.”
Sinteticamente, Pedro Silva a concluir: “No seio do Clube AFIS, os nossos objectivos não passam, claramente, por competir com a Meia-Maratona Cidade de Ovar, em termos de projecção, por exemplo. Não temos capacidade para o fazer nem está nos nossos horizontes. Até porque, associados à Orientação, há aspectos relativamente complexos, tanto ao nível técnico, como logístico. Teremos que cumprir gradualmente certas exigências e dar passos fundamentados nesse sentido. Gostaríamos, isso sim, de sentir que existe um grupo de pessoas motivadas em torno da Orientação, com vontade de participar e que esse grupo fosse crescendo aos poucos. Não temos objectivos concretos quanto ao número de pessoas que mobilizamos ou de provas que organizamos. Vamos devagar. Só não podemos é dar um passo maior do que a perna. Até porque a perna, neste momento, é curta.”
JOAQUIM MARGARIDO